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Cursos e Grupos de Estudos 2010

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Cursos e grupos de estudo em 2010

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>> quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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O MITO DA CRIAÇÃO DE ADÃO E LILITH


    Na aurora do mundo, Jeová Deus pensou em criar o homem para que pudesse se tornar o coroamento da Criação. E Deus disse: “façamos o homem, que seja a nossa imagem, segundo a nossa semelhança”. Assim ele estendeu a sua mão sobre a superfície da Terra talvez ali onde estivesse o monte Moriah e, apanhando poeira fina, misturou-a com outra terra das quatro partes do mundo, borrifada com água de cada rio e cada ar existente. Uma massa de epher, dam, marah (pó, sangue, bile) que deu a vida a Adão, o primeiro homem vivente. Jeová Deus colocou Adão no Jardim do Éden, para que lhe fizesse honra. Qual era a natureza do primeiro homem? Conheceu a aspereza da solidão e da própria singularidade? Talvez observasse tantos animais entre seus semelhantes – cavalos, cabras, pássaros, répteis e peixes – que se admirava de se ver só. Quando Deus criou Adão, fê-lo macho e fêmea. Quando Adão percebeu sua solidão em relação aos animais, pediu ao PAI uma companheira. Jeová no momento que a pediu, fez com que caísse em sono profundo, cortou-o ao meio e chamou a esta nova metade de Lilith, dando-a em casamento para Adão. Por desejo de Adão nascia a mulher. Ele havia descoberto a própria solidão, mas também a própria alma.
 
O amor de Adão por Lilith, foi logo perturbador, não havia paz entre eles porque quando eles se uniam na carne, evidentemente na posição mais natural, a mulher por baixo e o homem por cima, Lilith mostrava impaciência. Todas as vezes que eles faziam sexo, Lilith mostrava-se inconformada, em ter de ficar por baixo de Adão, suportando todo o seu peso. Assim perguntava a Adão: - Porque devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Adão permanecendo em silêncio, evoca a insistência de Lilith: - Por que ser dominada por você?. Contudo eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual. Ela pede para inverter as posições sexuais para estabelecer uma paridade, uma harmonia que deve significar a igualdade entre os dois corpos e as duas almas.
Malgrado este pedido, ainda úmido de calor súplice, Adão responde com uma recusa seca. Lilith é submetida à ele, ela deve estar simbolicamente sob ele, suportar o seu corpo. Portanto existe um imperativo, uma ordem que não é lícito transgredir.  Vendo que o companheiro não atendia aos seus apelos, que não lhe daria a condição de igualdade, ela se rebela contra Adão. Pronuncia nervosamente o nome de Deus, faz acusações a Adão e vai embora. Jeová então proferiu sua ordem: “O desejo da mulher é para o marido. Volta para ele”. Lilith não responde com a obediência, mas com a recusa: “Eu não quero mais ter nada a ver com meu marido”. Jeová  Deus insiste:“Volta ao desejo, volta a desejar teu marido”. Mas a natureza de Lilith mudou no momento em que blasfemou contra Deus, e não existe mais obediência.

 No momento crucial no qual Adão lhe negou o desejo, ela fugiu em direção ao Mar Vermelho, agora odiosa de seu esposo. É o momento que o sol se despede e a noite começa a descer o seu manto de escuridão soturno. A ruptura do equilíbrio pré-estabelecido. Adão sente a dor do abandono; entorpecido por um sono profundo, amedrontado pelas trevas da noite, ele sente o fim de todas as coisas boas. Desperto Adão procura por Lilith e não a encontra. Pede a sua volta..
 
Como o Reino celestial seria concedido aos que se afastassem dos horrores da Terra, e aos outros se propunha como penalidade, um lugar de extremo sofrimento, Jeová Deus, manda em direção ao Mar Vermelho uma formação de 3  Anjos: Sanvi, Sansavi e Samangelaf, para tentarem convencê-la a voltar. Eles alcançam Lilith, acham-na nas charnecas desertas do Mar Arábico, onde a tradição popular hebraica diz que as águas chamam, atraindo como imã, todos os demônios e espíritos malvados. Lilith se transforma, não é mais a companheira de Adão, está num lugar de trevas e sombras. Os anjos gritam seu nome, com a chama e a espada fulgurante, ordenando-lhe que volte para Adão, pois se não o fizer, será afogada. Mas Lilith responde: - “Como posso voltar para junto de meu homem e viver como esposa, depois deste meu gesto e de viver aqui”? Os anjos proclamam ainda: “Se desobedeces e não voltas será a morte para ti”.
 
É fortíssima a tensão dramática neste evento. O confronto é total, as forças do céu se medem com as forças da terra e das trevas. Uma suspensão onde há de um lado, ameaça a autoridade celeste ao destino de sombras, do outro a afronta. Lilith se posiciona no conflito, sabedora do próprio papel:

 E como poderei morrer se Deus me encarregou de me ocupar de todas as crianças nascidas homens, até o oitavo dia de sua vida, a data de sua circuncisão, e das mulheres até os seus vinte anos?
 
Lilith se recusa a seguir os 3 anjos e lhes diz: “Se eu vir os vossos três nomes ou seus semblantes sobre um recém nascido como um talismã, prometo poupá-lo. Os anjos aceitam de bom grado a má sorte e aceitam pelo menos a concessão parcial de Lilith. Eles voltam a Éden, mas Jeová já havia decidido punir Lilith exterminando seus filhos. Lilith torna-se a noiva de Samael, o senhor das forças do mal. Como conseqüência, passa a dar a luz aos Lillins, seus filhos com Samael. Os Lillins, nascem em proporção de 100 por dia e passam a ser alvos da cassa de Jeová. Representando assim a luta do bem e do mal.
 
Alguns escritos contam que Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith e, para compensar a sua tristeza, Deus resolveu criar Eva, a segunda mulher de Adão, moldada exatamente como as exigências da sociedade patriarcal, é o modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão.
 
Lilith nasce da mágoa do feminino e há uma lenda que diz que o Sol foi reclamar a Deus que o brilho da lua o ofuscava. Deus pede a lua que reduza seu brilho. Da redução do brilho da lua, surge Lilith, a Deusa da lua Negra, que vaga até hoje. A partir daí, todo mês a mulher tem uma vivência de fertilidade e morte, com o seu ciclo menstrual.

  EMBASAMENTO TEÓRICO AO MITO
 
O analista junguiano Carlos Byington nos remete ao conceito de Dinamismo Matriarcal, dentro do Arquétipo da Grande Mãe. Este dinamismo é o mais arcaico da consciência, pertence ao substrato da mesma, como formadora da história humana. Nele está contida a dualidade, que inclui o masculino e o feminino, o materno e o paterno.
  ... a polaridade existente no Dinamismo Matriarcal, aproxima consciente de inconsciente, o Eu e o Outro, possibilitando o deslocamento dos símbolos de uma dimensão para a outra, apresentando-se de forma binária. A dinâmica patriarcal tem como princípio de funcionamento, o dever, a tarefa e a coerência, expressam moralmente pela valorização extraordinária da palavra e do seu mantenimento, formando o complexo fenômeno da honra, da vergonha e da culpa patriarcal (BYINGTON, 1987:51-61)
Enquanto o urobóros feminino matriarcal rege a fase psicológica do matriarcado, o masculino, no qual o lado ativamente procriativo e móvel se manifesta, conduz ao patriarcado, contido no Arquétipo do Grande Pai. A condição para empatizar o dinamismo matriarcal é a capacidade de a personalidade emergir e se deixar ficar na inconsciência. A intuição é a função consciente de aprender a realidade através do inconsciente. Permanecer no inconsciente é uma característica do Dinamismo Matriarcal que depois vai emergir para operar através de qualquer uma das outras quatro funções (pensamento, sensação, sentimento e intuição). Regido pelo prazer e intensa proximidade afetivo-corporal, propicia uma dupla função estruturante. A sensualidade encontra nas forças da natureza, um veículo simbólico para se expressar. A vivencia sensorial dos símbolos na natureza complementa e nos sintoniza com os símbolos do corpo, propiciando vivencias espontâneas e enriquecedoras do Ser no mundo. É a partir da expressão da ligação da consciência com o arquétipo central – Self – que chegamos a identidade ontológica, a possibilidade de ser tocado e de tocar, num só ritmo, numa mesma relação com o que tensiona, emociona e traz significado. 
  ... O modo pelo qual uma idéia, uma inspiração ou uma embriaguês que sobem do inconsciente e tomam a personalidade como se por um subido e violento assalto, levando-o ao êxtase, a insanidade, a poesia ou à profecia, representa uma parte da atuação do espírito. O traço correspondente da consciência matriarcal é o fato de depender para ter qualquer intuição ou inspiração, daquilo que emerge do inconsciente de forma misteriosa e quase autônoma, quando, onde e como quer.  (NEUMANN, 1979:61)
 
Erich Neumann enfatiza os primórdios da consciência apontando fases sucessivas de desenvolvimento, onde o ego se liberta do aprisionamento inconsciente. Matriarcado e Patriarcado são estágios psíquicos caracterizados por diferentes desenvolvimentos do consciente e do inconsciente. Feminino e Masculino, como grandezas simbólicas. Neste caso poderíamos pensar em Lilith como uma grandeza feminina simbólica, arquetípica, que se emancipa, se expande, através da transgressão e da desobediência ao patriarcado simbólico, que no mito judaico cristão, é representado pelo DEUS-PAI. Adão também é submetido a este Pai, porém não tem a possibilidade de expansão de consciência, que possivelmente sua anima poderia lhe dar, já que, para Jung, o arquétipo da anima é criativo.
 
A anima parece nascida do inconsciente e apresenta-se como uma possibilidade ao ego, resultante da tensão rumo a individuação. Para Jung os opostos da psique contem um ao outro. Sua integração possibilita um equilíbrio. Toda virtude pode ser um vício e todo vício pode ser uma virtude. A consciência desta polaridade fez com que Lilith, questionasse a verdade do Pai. Embora Adão não a siga, mais adiante, no Mito de Adão e Eva, ele se permitirá transgredir ao Pai, seguindo Eva, que assim como Lilith, é outra grandeza simbólica do feminino. Desta forma, ambos vão possibilitar ao psiquismo, haver-se com as dores do mundo e a partir daí expandir sua consciência.  
... a relação conjugal só pode se exercer criativa se as grandes fixações dos ciclos parentais estiverem resolvidas em certa medida. Como força que puxa para frente, é muitas vezes a relação conjugal que ajuda a resolver essas fixações. O curador se não for ferido, também não poderá ser um companheiro profundo na vida conjugal. (VARGAS, 1985)
 
Assim como Lilith, que baba sangue em sua saliva, a mulher expulsa este sangue simbolizado mensalmente pela menstruação, sangue impuro, que representa uma ameaça à reprodução, inviabilizando-a de gerar.  Para a igreja, o sexo deve ter a pureza do resultado da fecundação e não pelo ato carnal entre um homem e uma mulher. No período da menstruação não deve haver acasalamento, colocando o homem fora deste processo. Ele não pode ter contato com este sangue. Este sangue é marca do feminino, assim como também o vermelho escarlate.
 
A vivência de morte do feminino, não deixa de ser uma vivência de morte também do masculino, já que a polaridade anima-animus é criativa em sua integração. Ambos os arquétipos, são indutores de um padrão de consciência igualitária, regida pela Alteridade, que inspira o individuo a seguir seus desejos e ideais, de modo e elevar seu nível de consciência.

Podemos trazer a questão do mito de criação para melhor percebermos a hierarquização dos papéis sexuais e a forma do masculino se impor.  Na mitologia primitiva grega, o mundo é criado por uma mulher, a Deusa Geia. Posteriormente a entidade divina é transformada numa forma andrógina, representada no hinduísmo pelos opostos Yin e Yan. Adão ao conter em si Lilith, contêm também sua anima, sua androginia.

A idéia de traição é na verdade à imagem idealizada do Pai. Lilith abandona Adão e vai para o Mar Vermelho, fazendo ali um ritual de passagem. As imagens trabalhadas e associadas no contexto terapêutico demonstravam isto.
 
  No momento em que Lilith desobedece e é punida por desejar igualdade, a possibilidade de integração se rompe, criando um espaço de forças contraditórias, que tentam oprimir a expressão do feminino. Tornando-se um mito carregado de sombras, e banido do inconsciente coletivo.  Um outro mito judaico-cristão surge.
  
No estágio seguinte, surge o Deus da crença judaico-cristã – JAVÉ, que cria a mulher a partir da costela torta de Adão. Ao adquirir conhecimento, o homem desconstrói a relação primordial homem-mulher-natureza. Surge o masculino imperativo, que perde a relação mais próxima de sua anima, e vai competir com a mulher, tornando-a inferior a ele. A mulher passa a sofrer as conseqüências de sua paixão, e assim como Lilith, começa a ser definida em função de sua sexualidade. A afetividade e a integração de sentimentos tão presentes na mulher, manifestos arquetipicamente na expressão criativa do feminino, quando em confronto com o masculino arcaico, pouco lapidado, acabam por desestruturar o sistema e provocar a desordem. A mulher passa a ser vista como símbolo de tentação destrutiva, capaz de desestabilizar a relação verdadeira que existia entre Deus e o Homem. Por isto Lilith se torna uma ameaça.

 A clínica traz relatos de muitas mulheres que dizem não conseguir o orgasmo. Nos tempos atuais, as pesquisas buscam de que forma estas mulheres podem consegui-lo, através da terapêutica sexual, na corrida pelo pleno gozo. O que Lilith reivindicou e saiu em busca, às mulheres ainda hoje continuam buscando. Muitas vezes jogos e fantasias sexuais são levados para a relação em busca dessa satisfação, que está no inconsciente coletivo no Mito de Lilith.

O indivíduo tem em sua essência psíquica individual e coletiva, o transgredir normas, desfazer paradigmas, entrar em contato com a Sombra, para que o desejo se manifeste e o gozo ocorra. A neurose se estabelece pelo desvio destas potencialidades, que passam a agir de forma sombria. Terapeutas sexuais orientam como descobrir o prazer no corpo, explorando-o mais, reconhecendo áreas erógenas e propondo o imaginário do setting sexual menos formal, mais ousado, menos Adão e Eva e mais Adão e Lilith. O encontro de amantes muito mais intensos do que o encontro entre casais formais. A transgressão é uma necessidade arquetípica. A mulher precisa tornar-se amante do homem, e não apenas sua mulher. O homem busca a amante, porque seu imaginário a valoriza sexualmente. A mulher valorizada por ele,  tenta cada vez mais tornar o seu lugar de amante como especial.  A traição não está no literal, mas no mundo das idealizações, das imagens, dos desejos e das frustrações.
 
Lilith em razão de sua desobediência, por desafiar as leis divinas e defender a expressão da sexualidade na igualdade, perde a possibilidade de êxtase e gozo remediados pelo poder masculino. Passa a perambular pelo mundo à procura de paz. Começa uma vida de andarilha errante. Acasala-se com demônios, parindo centenas de hodiernas por dia, os Lillins. Seus filhos sagrados, tidos com Adão, foram mortos pela ira do pai, e os que passa a ter com Samael,  são alvos de cassa. É a luta do sagrado e do profano.  Ela passa então a ser castigada por sua opção. Circula entre insetos, fezes e imundície, que fazem parte da cena de gozo de seus acasalamentos. O interessante disso é que ela vive o prazer, que antes reivindicava. Sua sexualidade é simbolizada como expressão sombria, mas é também um prêmio pelo seu desagravo.
 
Assim como a traição, o sexo como fonte de prazer, é prática pecaminosa e rejeitada pela religião cristã. A Igreja propõe a abstinência sexual como elevação do espírito, como um contato espiritual puro, genuíno com Deus. Porém, percebemos o quanto o corpo se ressente por esta abstinência, e muitas vezes a transgressão ocorre por quem mais a defende. De forma sombria encontramos ativos sexuais transgredindo estas regras ocupando posições que são consideradas imaculadas, onde se propõe a ter como escolha, total abstinência sexual. Acontece que o corpo e o psiquismo não respondem assim. Há o individuo em sua total necessidade de relação com seu próprio corpo.
 
A necessidade de surgir uma nova mulher para Adão, não impediu novamente a transgressão. Igualmente desobediente e irreverente, de uma forma mais doce que Lilith, surge Eva. Porém, sua natureza, também a faz pecar. Ao comer o fruto proibido, fecha o ciclo da transgressão necessária. O macho seria a vítima enquanto a mulher, metaforizada na figura da fêmea primordial, carregaria a culpa pela transgressão, ligada ao pecado que advém da carne em razão de sua famigerada sexualidade.
 
Quando Adão escolhe ir junto com Eva, sendo também banido do Éden – O Jardim das Delícias, ele  renuncia a Deus e mobiliza a primeira e mais cruel maldição do Homem. Se quisesse viver, teria que ficar ao lado do Pai. Como Mãe primordial, a mulher Lilith-Eva, deve ser abandonada.  Na castração simbólica, tal qual a fase edipiana, o menino deve abandonar a mãe para encontrar o Pai. A mulher passa a ser representante do feminino pela sexualidade, e o homem pelo trabalho
 
O desfecho final do Mito aponta para a saga de Lilith e sua escolha.  A saída de Lilith do Éden, a leva de encontro ao Mar Vermelho, é lá que se refugia. Podemos pensar que esta parte, traduz no mito um ritual de passagem. Mudar sua forma física e o ambiente onde até então vivia nos leva a ver Lilith como uma iniciática.
 ...O Mar Vermelho é o passar pelas águas da corrupção, que é o cronos. O além do Mar Vermelho é um além da criação. Lá todos se encontram juntos, “os deuses da perdição” e o “Deus da salvação”. “O Mar Vermelho significa a água da morte para os inconscientes, enquanto que para os “conscientes” é a água batismal da regeneração e do “ passar para além”. (JUNG, V.1, 1985:192)

 UMA LEITURA MÍTICA SOCIAL

 As questões teóricas apresentadas possibilitaram-nos através da vivência do mito de Adão e Lilith, discutir questões pertinentes à trajetória da expressão do feminino, nas questões psicológicas, míticas, religiosas e sócio-culturais, que traduzem o rompimento e a transgressão às Leis, no âmbito do Patriarcado, em busca da Individuação.  A partir da experiência do Mito de Criação de Adão e Lilith, podemos refletir sobre os sintomas que hoje afetam os relacionamentos entre homens e mulheres na expressão de sua sexualidade, liberdade e direitos. Observamos o comportamento humano como uma identificação com os padrões estabelecidos nos mitos, contos de fada, folclore, religião e arte.

Foi escolhido o mito de Criação de Adão e Lilith por ser um mito judaico-cristão que se tornou sombrio e que trata da relação entre um homem e uma mulher em seu posicionamento diante da Lei do Pai.  Podemos refletir sobre a questão do pecado  oriundo do feminino e o preço pago até os dias de hoje.
 
Com o passar do tempo as Deusas são banidas do poder e acabam por assumir a posição de esposas, servas, submissas, subjugadas por entidades masculinas. No Mito de Lilith isto não ocorre, eles nascem juntos, vindo do pó e excrementos. Nascem com seus sexos diferentes para que haja uma integração de suas polaridades. Ao desejar que a mulher no coito pudesse variar sua “posição com o homem”, ela é banida do Éden.  Ela deveria deitar-se “embaixo” de seu homem, na posição tida como a natural, mas reivindica a inversão desta posição, e incompreendida recebe o “não”. Ela queria experimentar o gozo e este lhe fora negado. O sexo como fonte de prazer é prática criminosa. Lilith vai para as trevas, e Adão fica a lado do Pai.   Enquanto vivendo no Éden, não vivenciam os obstáculos que estruturam o psiquismo e os impulsionam a diferenciarem-se de maneira criativa. A relação parental estabelecida está na figura do Pai. Não há a Mãe.  Eles são o casal primordial. 

Quando JAVÉ cria uma outra mulher para Adão, não impede que a transgressão e o rompimento ocorram, trazendo novamente à traição à imagem idealizada do PAI. Igualmente desobediente e irreverente, de uma forma mais doce que Lilith, Eva também trai o Pai, por sua natureza feminina. ... Ela se desliga inteiramente das fontes arcaicas do prazer (o corpo da mãe). Por isso, também não se divide se si mesma como se divide o homem, nem de suas emoções. Para o resto da vida, conhecimento e prazer, emoção e inteligência são mais integrados à mulher do que no homem e por isso, são perigosos e desestabilizadores de um sistema que repousa inteiramente no controle, no poder e, portanto no conhecimento dissociado da emoção e, por isso mesmo, abstrato. (PAIVA, 1993:24)

 A possibilidade de diálogo entre anima e animus, vem de uma consciência criativa, que vai possibilitar a forma como os arquétipos se manifestam. É preciso deixar o pai em sua literalidade e ir à busca do mundo. Jung afirma expressamente que tudo o que é pronunciado sobre “Deus” é sempre uma afirmação humana de origem psíquica:

Na castração simbólica, tal qual a fase edipiana, o menino deve abandonar a mãe para ir ao encontro do Pai. Por mais que deseje a mãe, é o Pai que vai oferecer-lhe o mundo masculino. Ao abandonar a mãe, incorpora seu masculino a partir de modelos de ação, concretude e delimitação. Há necessidade de manter seu lugar, para reconhecer-se como Homem. Ao identificar-se com o Pai, e afastar-se da mãe, estabelece modelos de relação diferenciada com este feminino, estendendo-o a outras mulheres.  

A religião também ocupa aqui um lugar a sombra. Revendo os evangelhos percebemos que a mulher ocupa um lugar de submissão e desvalorização. O marido é a cabeça da mulher assim como Cristo é a cabeça da Igreja.

Maria é elevada ao nível de Deus para poder gerar Deus, porém o homem a descaracteriza de sua posição feminina, na mítica cristã, onde Maria, a divina Grande Mãe, mesmo emprestando seu corpo para o nascimento de Jesus, não pertence à Santíssima Trindade, onde apenas Pai, Filho e Espírito Santos a compõem. Feminino não tem seu lugar reconhecido, embora, o princípio masculino e feminino necessite desta integração no seu psiquismo.

A idéia de uma fragilidade da mulher corrobora a cena de submissão, onde quem comanda e fica por cima é o homem, simbolicamente representado pelo coito permitido na posição que Lilith se nega a ter. Rejeitando as Leis do Patriarcado, encontramos na História a princesa Guinevere, que obedecendo a seu pai e casando-se com Arthur, transgride esta lei, tornando-se amante de Lancelot, o homem a quem realmente ama. Encontramos Antígona abalando todo um sistema patriarcal soberano, para salvar Polinice. Transgredindo o feminino, de forma arquetípica, encontramos várias expressões do feminino, em busca de um outro caminho. 

... Naturalizadas, as mulheres não foram incorporadas ou tornadas significativas na cultura humana/masculina. O confinamento do sexo feminino em uma relação limitada com alguns aspectos do meio ambiente, fruto da diferenciação sexual, traduziu-se em desigualdade de status e poder tornando-se hierarquia que, por seu caráter invariante, passou a ser percebida como um dado do comportamento humano, inscrita no corpo e por ele ditado, e que as representações mitológicas e ideológicas só fizeram confirmar. (OLIVEIRA, 1993:40)
 
A mulher se ressente ainda com a discriminação que veio vivendo em sua história. Valoriza hoje o reconhecimento de sua identidade experimentada a partir de uma nova concepção de vida calcada na fragmentação do eu e na diversificação de interesses. A feminilidade não pode ser uma ocupação protegida e destinada ao prazer. A pós modernidade cria uma tendência revisionista, contestatória, visto que os valores, conceitos, princípios e concepções passam a ser questionados. Nada mais é aceito passivamente.  Transgredir é tentar subverter uma história de passagens amargas.
 
A mulher precisou marcar seu caminho em diversos setores, sendo dos mais marcantes que se pode exemplificar, as artes e a política, colocando-se ao lado masculino reivindicando os mesmos direitos. Exemplos como a musicista Chiquinha Gonzaga, a artistas plásticas Camile Claudel e Frida Kahlo, a Senadora Heloisa Helena, seriam modelos de rompimento e transgressão.

  ... Masculino e Feminino são grandezas simbólicas, não devendo ser identificadas como “Homem” ou “Mulher” como portadores de características sexuais específicas. Nesse sentido, um estágio psicológico, uma religião, uma neurose, e também um estágio no desenvolvimento da consciência, podem ser chamados “matriarcal” e “patriarcal”, não significa o comando sociológico dos homens, mas o predomínio da consciência masculina que consegue separar os sistemas do consciente e do inconsciente, e que é relativamente estabelecida de maneira firme em posição e independentemente do inconsciente. Por essa razão, a mulher moderna deve também atravessar todos esses desenvolvimentos que conduzem à formação da consciência patriarcal, que agora é típica e tomada como certa na situação ocidental, sendo dominante na cultura patriarcal. (NEUMANN, 1979:56)
 


Trabalho elaborado pela psicóloga junguiana Rosangela Franklin Rozante, apresentado na II Jornada do Sízigia, Núcleo de Estudos junguianos de Fortaleza – CE., ocorrido no período de 13 a 15 de junho de 2008.

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POLÍTICA DE SAÚDE DO ENVELHECIMENTO


 No Brasil, entre 1980 e 2000, a população com 60 anos e mais, dobrou de 7,3 milhões para 14,5 milhões (Censo de 2000). Em 2025, o Brasil será o sexto país mais populoso do Mundo.  A Organização Mundial de Saúde, preconiza modos de viver mais saudáveis, e aponta para o Envelhecimento,  relacionando-se  a uma redução do número de crianças e jovens e a um aumento na longevidade. Existe, nos países desenvolvidos e nos em desenvolvimento, a preocupação com o fato de o envelhecimento da população não permitir que uma força de trabalho em redução seja capaz de manter a população tradicionalmente dependente  (mulheres, crianças e idosos). O Envelhecimento Ativo, é a otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.

CRIATIVIDADE, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
Essas são as palavras de ordem  do Projeto Vida na 3ª. Idade, desenvolvido no Espaço Terapêutico Caminhos do Self, que tem como objetivo trabalhar de forma terapêutica a experiência da 3º. Idade, através da auto-estima, consciência pessoal, familiar e social. O Projeto abrange cinco segmentos básicos: arteterapia, alongamento, dança sênior, informações sobre o envelhecimento e o lazer.
Com a Arteterapia os idosos têm a oportunidade de despertar a criatividade através do manuseio de diversos materiais expressivos, como: tintas, lápis de cor, argila, linhas, tecidos entre tantos outros. Esses materiais servem de instrumento para um fazer criativo e trazem informações à consciência para o autoconhecimento. Está atividade também  estimula a memória e os movimentos das articulações  superiores.
A atividade física é saudável e benéfica para as pessoas idosas. Os exercícios de ativação, mantém a boa saúde e ajuda a conduzir as limitações da idade. Com o alongamento, o idoso melhora a condição física, bem como a coordenação. Ganha força e confiança para as atividades do dia-a-dia, recuperando sua auto-estima.
A dança sênior por sua vez é uma dança de origem alemã, de baixo impacto, que proporciona o estímulo da memória e percepção. Trabalha a lateralidade, coordenação motora e ativa a circulação. Tem passos curtos, leves e mais lentos. Aprendida facilmente, pode também ser praticada sentada, acolhendo assim, idosos que possuem algum tipo de debilidade motora.
Entender o envelhecimento hoje faz um diferencial para se ter uma vida saudável. Através de palestra e reflexões muitos mitos são desmistificados e discutidos, como: Mito: “tarde demais para mudar estilo de vida...” Nunca é tarde demais; pelo contrário, atividade física adequada, alimentação saudável, abstinência de fumo e álcool e uso disciplinado de medicação (prescrita pelo médico) podem prevenir as doenças e o declínio funcional, aumentando a longevidade e a qualidade de vida. O envelhecimento ativo requer autonomia e independência: AVDs (Atividades da vida diária), AIVDs (Atividades integrais da vida diária), atividade física e sociabilidade.
Envelhecer hoje é uma realidade. Venha conhecer nosso Projeto e desfrute de um espaço harmonioso e aconchegante, onde o idoso é respeitado e valorizado.O Espaço Terapêutico Caminhos do Self, fica na Rua Oldegard Sapucaia, nº 6 grupos 201 e 203, no bairro do Méier/RJ. Conta neste projeto com a participação de psicólogos, gerontólogos, professora de educação física e de dança sênior e também uma profissional de Engenharia do Trabalho e Guia de Turismo, para que os idosos tenham acesso ao lazer nos finais de semana, sendo esta uma atividade opcional.  O telefone de contato é 32728471 (horário comercial).
Texto produzido  por: Helayne Costa – Arteterapeuta e Gerontóloga, 
Cláudio de Oliveira,  psicoterapeuta e dinamizador do Grupo de Reflexão

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O TRABALHO PSICOLÓGICO ATRAVÉS DA ARTETERAPIA





“A fonte da criatividade artística, assim como de qualquer experiência criativa, é o próprio viver. Todos os conteúdos expressivos na arte são conteúdos essencialmente vivenciais e existências”
(FAYGA OSTROWER)


Entre os povos primitivos, a arte já era reconhecida como manifestação do sagrado. Era exercida coletivamente através da dança, do canto, da narração mítica, da pintura corporal, da confecção de objetos e adornos.

A Arteterapia é um recurso terapêutico. Iniciou sua prática na Europa e Estados Unidos, onde surgiu como profissão em 1969. As precursoras da Arteterapia foram Margaret Naumburg em 1941 e Edith Kramer, em 1958. No Brasil, começou a ser utilizada por Osório César em 1925 e pela psiquiatra Nise da Silveira em 1946, que criou mais tarde o Museu do Inconsciente, localizado no Hospital Nise da Silveira, no Engenho de Dentro.

O trabalho psicológico se propõe a trazer diferentes e abrangentes modalidades artísticas, tendo também no seu embasamento, inúmeros referencias da psicologia, como Freud, Jung, Winnicott, Bachelard, Maslow e outros. Os benefícios surgem no processo de criar e recriar as diversas etapas da vida e seus movimentos psíquicos. O individuo ao descobrir seu processo criativo muitas vezes reprimido, entra em contato com conteúdos internos, oriundos do inconsciente, estabelecendo com eles um diálogo. Estes conteúdos internos possíveis de serem vivenciados, reeditados e transformados, através da arte, ampliam a consciência sobre suas potencialidades e possibilidades de atuação no mundo.

A Arteterapia produz excelentes resultados para todas as faixas etárias, porque envolve uma relação de diálogo com o inconsciente, manifesto pelo fazer expressivo sem nenhum comprometimento estético. O caminho a percorrer é puramente simbólico e de estruturação da personalidade através dos conteúdos psíquicos carregados de energia, e que são manifestos no processo criativo de cada cliente.

Trabalha com recursos vivenciais e expressivos (desenho, pintura, modelagem, colagem, dança, expressão corporal, relaxamento e visualização criativa, dramatização, narração de história, etc.). Atualmente diversos terapeutas, de formações variadas, utilizam seus recursos em escolas, hospitais, empresas, consultórios e comunidades terapêuticas para inúmeros comprometimentos físicos, mentais, psíquicos e sociais.

Adquirindo qualidades terapêuticas, a Arteterapia exprime emoções através de imagens. É uma forma lúdica de mobilizar processos internos conflitivos, facilitando a estrutura e expansão da personalidade, de todas as faixas etárias.  Possibilita a abertura de canais de comunicação, visando o aspecto criativo ligado ao psiquismo individual e coletivo. Utiliza estratégias básicas de comunicação não verbal, onde o indivíduo produz imagens de conteúdo interno, através de diversos recursos e materiais de arte e sucata. Por não ser uma ilha, o Homem precisa aprender a conviver consigo mesmo e com o seu semelhante. É no setor destes conflitos, que a arteterapia vai trazer seus maiores benefícios.

Materiais que dão forma como argila, massa de gesso, de papel marche, etc, ajudam a romper a inércia e estabelecem o princípio ativo da criação da vida que é o principio feminino. Imagens a princípio toscas e sem sentido, recebem vida e ganham um significado.

A experiência transpessoal pode ser desenvolvida por meio de técnicas como meditação, relaxamento, dança curativa, etc. Na possibilidade da composição e dramatização de personagens, o individuo projeta suas diversas personas.

Percebo pessoas tímidas... muito introvertidas construindo e dando vida a personagens criativos, extrovertidos e confiantes. Da mesma forma, o inverso também se mostra.

O trabalho com a música produz estudos alterados de consciência, que são ativados pelo ritmo, pulsação, movimento, sensibilização e pesquisa.

O trabalho do Arteterapeuta vai exigir uma grande concentração no processo da construção simbólica do cliente. O registro sensorial se faz somente sob a forma de imagem. Esta imagem pode ser apresentada através de diversos materiais, dando à ela um sentido, uma qualidade ...um significado.

Rosangela Rozante - Psicóloga e Arteterapeuta
CRP-05/5024 e AARJ-302

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Psicologia

>> segunda-feira, 18 de outubro de 2010

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